Como nasceu o Dia Internacional do Trabalhador
O professor Paulo Cosiuc da PUC Campinas escreveu um texto sobre o Dia do Trabalhador – 1º de Maio – que transcrevemos abaixo.
Estamos sugerindo que você discuta o texto com alguém para conscientizá-los da importância desta data. Será uma maneira de comemorar o Dia do Trabalhador, oferecendo esta contribuição ao processo de formação dos alunos. Ter conhecimento dos motivos que levaram à definição das datas que comemoram as lutas do povo pela sua libertação, constitui-se em algo de grande importância para a educação das novas gerações.
Com o início da Revolução Industrial, na segunda metade do século 18, na Inglaterra, com o advento da máquina (indústria têxtil, a primeira a se mecanizar), as condições de trabalho e de vida dos operários e operárias das fábricas tornaram-se caóticas.
Longas jornadas de trabalho (variando de 14 a 18 horas diárias), baixíssimos salários, violenta e vergonhosa exploração do trabalho de mulheres e crianças, total falta de segurança no trabalho, ambientes insalubres e prejudiciais à saúde, constantes epidemias acarretando centenas, ás vezes, milhares de mortes são as marcas registradas das novas relações de trabalho geradas pela indústria.
O proletariado tornou-se base econômica de sustentação da sociedade capitalista como força de trabalho e gerador da mais-valia que permitiu e permite os grandes lucros do capitalista. Mas, desde o início ele lutou e luta hoje por melhores condições de trabalho e de vida.
movimento luddista, inspirado nas idéias de Ned Ludd, pode ser considerado como a primeira manifestação de resistência e luta dos trabalhadores. Foi marcado pela destruição de inúmeras máquinas e fábricas consideradas responsáveis pelas mazelas da classe obreira. A reação dos patrões, apoiados pelo governo inglês, foi “tranqüila” e “generosa”, como sempre acontece. Bateram, prenderam e mataram inúmeros operários.
Depois de 1830, os operários ingleses criaram a Associação dos Operários, considerada ilegal pelas autoridades. Em 1837, a associação bancou a Carta do Povo onde além das reivindicações econômicas, já se propunha a luta política (voto universal, masculino, voto secreto, remuneração dos parlamentares entre outros itens), greves, passeatas, comícios foram organizados para pressionar o governo.
Por volta de 1848 o movimento arrefeceu por divergências internas e repressão governamental. Na seqüência da luta, surgiram as “trade-unions”, associações de trabalhadores ingleses, inicialmente de cunho assistencialista e reivindicatório e, posteriormente com objetivos políticos. O movimento tradeunionista chegou a impor medo aos patrões que, muitas vezes, preferiam negociar e deu origem, já no final do século 19, aos primeiros sindicatos de trabalhadores que, além da luta econômica e política, passaram a lutar por transformações sociais amplas.A luta dos trabalhadores ingleses se estendeu para outros países.
Nos Estados Unidos, no dia 1º de maio de 1886, cerca de cinco mil trabalhadores entraram em greve, tendo como principal reivindicação à redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias. Proclamação: “A partir de hoje ninguém deve trabalhar mais de 8 horas tendo: 8 horas de descanso e 8 horas de educação”.O centro do movimento foi à cidade de Chicago. Os operários da fábrica Mc Cormick organizaram uma manifestação pacifica, um comício na Praça do Mercado. Uma bomba explodiu, matando trabalhadores e policiais. Sem provas, os trabalhadores foram responsabilizados pelo ato. A repressão governamental foi rápida e violenta: jornais operários foram fechados e proibidos, com destruição das suas instalações, novas manifestações foram proibidas, além de dezenas de trabalhadores feridos ou mortos no choque com a policia. Os principais líderes da greve foram imediatamente presos. No dia 17 de maio de 1886 ocorreu o “julgamento”, melhor seria dizer, o sentenciamento dos indicados. No dia 20 de agosto de 1887 veio a sentença:.- Alberto Parsons, Augusto Spis, Adolfo Fischer, George Engel e Luiz Lingg foram condenados à morte. Lingg suicidou-se na sua cela (10/11/1887) e os restantes enforcados no dia 11/11/1887. Michel Schawb e Samuel Fielden foram condenados a 18 anos de prisão e Oscar W. Nube a 15 anos. Deve-se lembrar que grande parte dos líderes do movimento era adepta das idéias anarquistas.
Por ocasião do Congresso de Paris, em 1889, organizado pela I Internacional Comunista, os “mártires de Chicago” foram homenageados e o dia 1º de maio foi consagrado como o de luta do proletariado: Dia do Trabalhador e devemos complementar, da Trabalhadora e não dia do trabalho como quer a burguesia industrial.
Em 1893, o governo estadunidense reconheceu a inocência dos condenados.Nesse processo de lutas da classe obreira, não podemos esquecer a efetiva participação da mulher trabalhadora. No dia 08 de março de 1857, em Nova Iorque, na fábrica de tecidos Cotton, os operários entraram em greve por melhores condições de trabalho, redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias e regulamentação do trabalho das mulheres (na gravidez, trabalhavam até o 9º mês e, não raro, o parto ocorria na própria fábrica). Os proprietários se recusavam a atender. Inúmeras operárias resolveram ocupar o prédio da fábrica. A polícia foi chamada e, a serviço dos patrões, cercou o prédio da fábrica, incendiando-o a seguir. Morreram 129 operárias queimadas.
Este fato deu origem, com muita justiça, ao Dia Internacional da Mulher (8 de março).
Nesse 1º de maio de 2007 queremos render a nossa homenagem póstuma aos milhares, talvez milhões de trabalhadores e trabalhadoras que, em diferentes épocas de luta, tombaram na luta por melhores condições de trabalho e de vida.
Inúmeros têm os seus nomes registrados pela história oficial como “subversivos”, “baderneiros” e perniciosos para a sociedade. Outros milhares e milhares de anônimos lutaram e tombaram diante da opressão capitalista e seus nomes desconhecidos estão registrados, apenas, na história da raça humana, das suas lutas e conquistas.
Parabéns! Obrigado!.
“A luta continua”(Paulo Cosiuc, Professor de História da PUC – Campinas e Diretor do SinproCampinas e Região)
FÁBRICALetra e música de Renato Russo
Nosso dia vai chegar, teremos nossa vez.
Não é pedir demais: Quero justiça.
Quero trabalhar em paz.
Não é muito o que eu lhe peço,
Eu quero trabalho honesto em vez de escravidão.
Deve haver algum lugar onde o mais forte nãoconsegue escravizar.
Quem não tem chance.
De onde vem a indiferençatemperada a ferro e fogo?
Quem guarda os portões da fábrica?
O céu já foi azul, mas agora é cinza,
e oque era verde aqui já não existe mais.
Quem me dera acreditar que não acontece nada.
De tanto brincar com fogo, que venha o fogo então.
Esse ar deixou minha vista cansada.
Nada demais